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Saiba mais sobre o zumbido

Zumbido não é um assunto fácil pra ninguém. Para os pacientes que se queixam e para os médicos e fonoaudiólogos que lidam com ele, a existência de muitas causas possíveis, inúmeros exames a serem feitos e diferentes formas de tratamento só mostra como é vasto e complexo o tema. Para os profissionais que querem se aprofundar no estudo, sugiro o tratado Textbook of Tinnitus, editora Springer, de 2011. O livro de quase 800 páginas conta com a colaboração de pesquisadores e especialistas de todo o mundo (inclusive brasileiros) e é fruto da iniciativa do excêntrico milionário Italiano Matteo de Nora, que se viu vítima do zumbido após capotar com seu 4X4 no rali dos Faraós, no Egito, em 2004.

Zumbido (em inglês, tinnitus) é qualquer percepção auditiva que não corresponda a um som real. Trata-se portanto de um som fantasma. Já os pacientes descrevem seu zumbido das mais diferentes formas: chiado, cachoeira, TV fora do ar, buzina, sirene, panela de pressão e por aí vai… Estudos realizados para estimar a frequência de zumbido na população mostram que 80% das pessoas já experimentaram algum episódio e 20% o sentem de maneira mais contínua. Ironicamente, a perda auditiva (nos seus diversos tipos origens), capaz de privar as pessoas de sons importantes do dia a dia, também acaba “criando sons que não existem”, sendo ela a principal causa de zumbido. Outras causas podem ser de ordem vascular, neurológica, tumoral, psiquiátrica, traumática, muscular ou articular.

Mas como eu disse antes, o zumbido é na maioria das vezes decorrente de algum grau de surdez. Tudo indica que, diante da privação da entrada de sons através dos ouvidos, o cérebro tende a uma disfunção nas áreas e conexões relacionadas ao processamento auditivo e isso pode gerar o zumbido para alguns pacientes. Nessas situações, algumas pessoas estão mais sujeitas à percepção e ao consequente desconforto causados por essa atividade neural anormal. Essa predisposição pode estar relacionada à fatores psíquicos, como o medo de ter uma doença grave, ansiedade e depressão. Assim, uma das técnicas mais atuais no tratamento do zumbido, o tinnius retraining therapy – resultado do modelo neurofisiológico para o zumbido criado pelo Prof. Jastreboff – atua no nível neuropsicológico, com aconselhamento e esclarecimento do paciente e seu problema, além do uso de aparelhos geradores de sons que induzem a habituação. Habituação é um fenômeno relacionado à plasticidade das conexões neuronais e é capaz de fazer que ao longo do tempo nosso cérebro passe a “ignorar” um zumbido que se tornou contínuo, fazendo que o paciente deixe de percebe-lo.

Uma curiosidade fruto desse modelo neurofisiológico é que, diagnósticos negativos e fatalistas que frequentemente são apresentados aos pacientes, do tipo “não há o que fazer, aprenda a conviver com o zumbido”, além de não serem verdadeiros, têm um enorme poder de piorar o desconforto dos pacientes. Hoje sabemos que no primeiro contato com alguém queixando-se do zumbido nossa postura deve ser de informadora e tranquilizadora, por um lado ditando o rumo da investigação e da conduta médica, e por outro, explicando que a maioria absoluta dos pacientes ficará muito melhor ao longo do tempo.

Para além da complexidade e das histórias, há muito o que se fazer na vida real pelos pacientes que nos procuram com a queixa de zumbido nos ouvidos. Antes de qualquer coisa, ter em mente que o zumbido é um sintoma de algo além, não menosprezar a queixa nem jogar a toalha antes da hora. Em seguida, investigar e afastar as causas potencialmente graves, ou quando presentes, enfrentá-las. Por fim, cumprir nosso papel, aplicando todos os recursos disponíveis para a melhora do paciente.

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